Contra as correntes: refletindo sobre identidades de gênero e de raça em aulas de língua portuguesa

Abstract

A escola é uma das instituições formadoras das identidades sociais de raça e de gênero. Nesse sentido, faz-se necessário repensar as práticas pedagógicas de modo que elas favoreçam uma problematização dos processos de construção dessas identidades. Este estudo é uma pesquisa ação crítica que pretende propor uma intervenção, por meio de um grupo focal, que provoque reflexões nos/as estudantes sobre como é ser uma menina ou uma mulher negra na sociedade brasileira. O objetivo é que tais reflexões favoreçam uma busca desses/as alunos/as por mudanças na realidade marcada pela dominação racial e de gênero a que são submetidas as meninas negras. Partindo de uma revisão da literatura e dos dados sobre o tema, a pesquisa se divide em duas etapas. Na primeira, procurou-se identificar as representações que os/as estudantes traziam sobre ser mulher e negra na sociedade brasileira. Como instrumento metodológico foi utilizado o Questionário de Evocação Livre de Palavras, construído com base na Teoria das Representações Sociais, e como técnica de interpretação de dados foi utilizada a Análise de Conteúdo. Na segunda parte foi aplicado um grupo focal com discentes de uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental regular durante aulas de Língua Portuguesa de uma escola da rede municipal de Belford Roxo. Nesse momento, foi desenvolvido um caderno de atividades didático-pedagógicas composto de diversos planos de aula e de materiais selecionados para abordar temáticas referentes à condição da mulher negra. Esses materiais são compostos de textos a serem trabalhados em atividades de leitura, de interpretação e de debates que favoreçam o diálogo e a troca de olhares e de experiências entre os sujeitos. Toda aula propõe ao final uma atividade de produção textual na qual os/as alunos/as projetem suas identidades e seus posicionamentos a respeito do tema abordado. A interculturalidade crítica e a pedagogia decolonial foram as perspectivas que embasaram todo o processo de pesquisa e montagem do produto educacional. Os resultados obtidos permitem considerar por um lado, a necessidade de reflexão sobre os processos de formação das identidades de meninas negras e, por outro, que recursos didático-pedagógicos que adotem a perspectiva da decolonialidade podem contribuir para a (re)construção e o surgimento de novas práticas e saberes entre estudantes que ressignifiquem ser mulher e menina negra em nossa sociedade.