Afeto no ensino de filosofia: um caminhar pedagógico afrorreferenciado

Abstract

Este trabalho defende a importância do afeto no ensino básico de Filosofia sob uma perspectiva decolonial. Considera a afrodescendência majoritária da população brasileira e ressalta o teor afetivo como importante traço das pedagogias afro-brasileiras (não-formais); objetiva problematizar a prevalência e o peso atribuídos às filosofias eurorreferenciadas pelos currículos escolares. A partir das observações e vivências experimentadas pela autora durante os anos de sua formação acadêmica e atuação profissional no magistério (mais recentemente, como professora desta instituição) e dos estudos decoloniais realizados no Programa de Pós graduação em Educação das Relações Étnico-Raciais – EREREBÁ, o presente texto propõe a reflexão e a intervenção sobre as meras aceitação e reprodução em sala de aula de saberes e metodologias exclusivamente vinculados ao cânone filosófico europeu e, neste contexto, questiona os lugares comumente reservados ou interditados à abordagem da afetividade como conteúdo filosófico. Propõe, ao invés da uniforme adoção de práticas que usualmente rejeitam ou subestimam a dimensão afetiva do pensamento filosófico, a valorização da expressão e a atenção aos afetos enquanto componentes inescapáveis de nossa humanidade e potencialidades filosóficas a serem lapidadas. Os argumentos, reflexões e propostas aqui apresentados são orientados e enriquecidos pelas elaborações teóricas acerca dos afetos pertinentes às pedagogias das pensadoras afro-estadunidenses Audre Lorde e bell hooks, pela poética filosófica da pensadora brasileira Conceição Evaristo e pelo pensamento do filósofo brasileiro Paulo Freire.