Entre o bullying e a zoação: uma contribuição analítica sobre as principais diferenças de modos violentos e jocosos de se relacionar na escola.

Abstract

Neste trabalho, viso contribuir com os estudos que se ocupam dos fenômenos sociais e culturais que adentram os espaços escolares, sobretudo os da escola básica, no sentido de ocasionar situações cômicas ou conflituosas entre diversos atores da escola, principalmente, entre professores, estudantes e dirigentes escolares. O objetivo deste trabalho é evidenciar a partir de um estudo etnográfico as principais diferenças entre dois fenômenos comuns em ambientes escolares brasileiros, que são: o Bullying e a Zoação. Se por um lado a noção de bullying expressa ações e situações frequentes ou sistemáticas de abusos e violências, sobretudo em ambientes escolares, gerando graves consequências (físicas, psicológicas ou sociais) para aqueles quem já enfrentaram ou enfrentam tal problema; por outro, a noção de zoação (e seus sinônimos) pode expressar ações e situações, mediadas pelo humor, nas quais elementos lúdicos são mobilizados e incorporados nas práticas cotidianas escolares com inúmeras finalidades: de produzir situações cômicas, causar constrangimentos jocosos (não necessariamente ofensivos), dirigir críticas a representantes das normas institucionais (ou a outros ligados a tal contexto), ou até mesmo produzir autocríticas. Defendo, portanto, que estes dois fenômenos não devem ser confundidos conceitualmente e empiricamente, embora possam existir situações onde as “zoeiras” (piadas, brincadeiras entre outras jocosidades) podem desencadear situações de violências entre diferentes sujeitos da escola. Além de traçar algumas diferenças entre os dois fenômenos apontados, apresento ao fim do trabalho um breve roteiro (uma proposta pedagógica) com dicas de como professores e dirigentes escolares podem lidar ludicamente com tais questões, principalmente no sentido de evitar situações extremas, quando as “brincadeiras” perdem o seu teor lúdico e flertam eventuais situações violentas.

In this paper, I intend to contribute to the studies that deal with social and cultural phenomena that enter the school spaces, especially the elementary school ones, in the sense of causing comical or conflictive situations among several school actors, especially among teachers, students and school leaders. The objective of this work is to show, through an ethnographic study, the main differences between two very common phenomena in Brazilian school environments, which are: Bullying and Teasing. If, on the one hand, the notion of bullying expresses frequent or systematic actions and situations of abuse and violence, especially in school environments, generating serious consequences (physical, psychological or social) for those who have faced or are facing this problem; on the other hand, the notion of teasing (and its synonyms) can express actions and situations, mediated by humor, in which playful elements are mobilized and incorporated into everyday school practices with numerous purposes: to produce comical situations, to cause jocular embarrassment (not necessarily offensive), to direct criticism at representatives of institutional norms (or others linked to such context), or even to produce self-criticism. I argue, therefore, that these two phenomena should not be confused conceptually and empirically, although there may be situations where "teasing" (jokes, joking among other jocularities) may trigger situations of violence between different subjects at school. Besides outlining some differences between the two phenomena pointed out, I present at the end of the paper a brief script (a pedagogical proposal) with tips on how teachers and school leaders can playfully deal with such issues, especially in order to avoid extreme situations, when the "jokes" lose their playful content and flirt with eventual violent situations.