Lima Barreto e o morro do Castelo : dois estranhos no Rio de Janeiro da Belle Époque

Abstract

A crença de que havia inestimáveis tesouros escondidos nas entranhas do Morro do Castelo fascinou, durante séculos, o imaginário da população. Historiadores, engenheiros, políticos e literatos criam que os jesuítas, ao serem expulsos pelo Marquês de Pombal em 1759, teriam escondido riquezas inestimáveis em galerias subterrâneas. Neste trabalho, pretendo analisar as alterações ocorridas, na geografia da cidade do Rio de Janeiro, a partir da obra do literato negro Lima Barreto (1881-1922). Buscamos também realizar um diálogo entre as obras de Lima Barreto com o pensamento dos filósofos: Michel Foucault (1926-1984) e Henri Lefebvre (1901-1991), bem como do historiador Jacques Le Goff (1924- 2014). A metodologia utilizada é a revisão bibliográfica da obra de Lima Barreto, conjugada a fontes secundárias de pesquisa – como livros, teses, periódicos da época. No âmbito da ProfEPT, Ensino, Educação Profissional e Tecnológica, esta monografia visa colaborar às leituras interseccionais e às reflexões sobre a presença negra no Rio de Janeiro da Primeira República. Ao conferir importância à experiência individual dos habitantes do Rio de Janeiro da Primeira República, Lima Barreto desenvolveu um discurso de resistência ao modelo oficial baseado nas ideias de ordem, progresso, civilização e higiene. A escrita de Lima Barreto rompia com os padrões de acadêmicos, sendo visível a sua preocupação em dar voz aos indivíduos que também eram segregados pela cor, tal como o que ocorreu com ele próprio. O escritor elabora em seus romances, contos, crônicas e diários, uma argumentação que coloca em tensão a cidade dos indivíduos excluídos, neste caso os castelenses, e a identidade nacional que se pretendia forjar com as reformas urbanísticas do início do século XX.

The belief that there were priceless treasures hidden in the bowels of Morro do Castelo fascinated, for centuries, the imagination of the population. Historians, engineers, politicians and literati believe that the Jesuits, when expelled by the Marquis of Pombal in 1759, would have hidden priceless wealth in underground galleries. In this work, I intend to analyze the changes that have occurred in the geography of the city of Rio de Janeiro, based on the work of the black literary writer Lima Barreto (1881-1922). We also seek to conduct a dialogue between the works of Lima Barreto with the thoughts of the philosophers: Michel Foucault (1926-1984) and Henri Lefebvre (1901-1991), as well as the historian Jacques Le Goff (1924- 2014). The methodology used is the bibliographic review of the work of Lima Barreto, combined with secondary research sources - such as books, theses, periodicals of the time. reflections on the black presence in Rio de Janeiro of the First Republic. By giving importance to the individual experience of the inhabitants of Rio de Janeiro of the First Republic, Lima Barreto developed a discourse of resistance to the official model based on the ideas of order, progress, civilization and hygiene. Lima Barreto's writing broke with academic standards, and his concern with giving a voice to individuals who were also segregated by color, such as what happened to himself, was visible. The writer elaborates in his novels, short stories, chronicles and diaries, an argument that puts in tension the city of excluded individuals, in this case the castelenses, and the national identity that was intended to be forged with