A prática de ritmos musicais afro-brasileiros como forma de desconstrução de preconceitos

Abstract

A aula de música é um espaço privilegiado de troca de experiências entre docentes e discentes, assim como de observação de comportamentos, valores, culturas e preconceitos em relação a certos gêneros musicais, especialmente de origem afro-brasileira. Preconceitos que podem revelar muito mais que simples rejeições a determinados ritmos ou melodias. Por outro lado, a Educação Musical tem como uma de suas atribuições, a formação dos estudantes para a diversidade. Diante dos desafios vivenciados no cotidiano das escolas, esta é uma pesquisa ação crítica que pretende propor uma intervenção pedagógica, por meio da técnica da observação participante, com vias a promover uma mudança de olhar em relação não só aos ritmos, mas também à cultura afro-brasileira, frequentemente excluída dos currículos escolares e dos materiais didáticos, por parte de estudantes de Ensino Fundamental da rede municipal de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Dividida em duas etapas, inicialmente procurou-se coletar as representações sociais dos/das estudantes em relação a diferentes gêneros musicais, em especial os que têm sua origem relacionada à cultura afro-brasileira. Como suporte metodológico foi utilizado um questionário de evocação livre de palavras, elaborado com base na Teoria das Representações Sociais. A partir da constatação de que a relação desses estudantes com esses gêneros musicais é marcada pela reprodução de preconceitos e estereótipos, foi realizada a segunda parte da pesquisa que consistiu na aplicação de um conjunto de atividades didático pedagógicas, com o objetivo de colaborar no processo de ressignificação nesses estudantes os valores da cultura afro-brasileira, de modo que possam ampliar seu universo musical e vivenciar efetivamente a prática da diversidade. O material desenvolvido foi elaborado à luz da interculturalidade crítica e a culminância do processo foi a produção coletiva de um videoclipe no qual os estudantes foram protagonistas, compondo, tocando e cantando uma canção coletivamente e orientada por todas as reflexões realizadas durante a pesquisa. Os resultados obtidos nos mostram que trazer a cultura afro-brasileira para a sala de aula é sempre um ato de resistência, mas que com resiliência e suportes teóricos que deem conta de uma visão multicultural de Educação, é possível trazer contribuições relevantes à mudança de olhar em relação a esta cultura, tão importante na formação de nossa identidade cultural.