Educação sexual: análise de conteúdo do livro de Ciências do 8º ano adotado no Colégio Pedro II

Abstract

A sexualidade é inerente à vida e sofre interferências das mais variadas esferas da sociedade, tais como família, escola, mídia, amigos e religião. A forma com que essa sexualidade se expressa dependerá da sociedade, tempo e espaço, que atravessam o indivíduo. A escola, enquanto espaço de convívio social, de formação de identidade e responsável pelo ensinar de crianças, adolescentes e jovens, é uma potência para o ensino da Educação Sexual (ES). Durante o século XX até os dias atuais, a ES é voltada para o ensino de Biologia, com temas como: sistema genital, hormônios sexuais, características secundárias sexuais, gravidez, infecção sexualmente transmissível (IST). A partir da década de 1990, com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), outros assuntos transpassam a ES, como a orientação sexual e gênero, mesmo que de maneira incipiente. Nos dias atuais, com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), vê-se o retrocesso, com a retirada dos termos citados, que eram presentes no currículo anterior. Entretanto, os maiores norteadores são os livros didáticos adotados por cada instituição de ensino. O presente trabalho se propõe a investigar o livro de Ciências do 8° ano da coleção Apoema da Editora Brasil, que foi adotado no Colégio Pedro II para o triênio 2020-22 dentro do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), e compará-lo com o Projeto Político Pedagógico da Instituição (PPPI). A metodologia consiste em categorizar, através da análise de conteúdo, os achados do livro em biologizante-higienista e psicossocial-cultural. Como resultado, tem-se a porcentagem de termos pertinentes, para a ES, alocados em cada categoria. O primeiro capítulo, “A reprodução”, se encaixa na primeira categoria, visto que faz referência a reprodução dos seres vivos. O segundo capítulo, “Sexualidade e vida”, é o que mais aborda a categoria psicossocial-cultural, com 32%s, dentre as temáticas mais abundantes tem-se a adolescência, os estereótipos de gênero e o bullying. No capítulo seguinte, “Da concepção ao nascimento”, o índice cai para 7% e a categoria biologizante-higienista soma 93%, uma vez que se dedica a detalhar a fisiologia e anatomia reprodutora. No último, “Saúde e sexualidade”, ocorre 17% psicossocial-cultural e 83% biologizante-higienista, os assuntos mais abordados são IST e métodos contraceptivos, contudo há um cuidado em versar temas sensíveis, como o preconceito sofrido por uma pessoa que testou positivo para o vírus HIV. Com relação ao PPPI, o conteúdo programático de Ciências do 8° ano é biológico e higienista, ficando a cargos de outras disciplinas o debate, principalmente Ciências Sociais, que se dedica a abordar juventude e identidade. Infere-se, portanto, que o livro possibilita a abordagem de assuntos sensíveis da sociedade, por mais que faça de maneira inconsistente pela falta de representatividade e de diversidade no texto, e que o conteúdo programático da instituição, previsto pelo PPPI, acompanha um viés mais conservador da Educação Sexual em Ciências, uma vez que se encontra desatualizado.