Desemparedamento das infâncias: uma mudança paradigmática do fazer docente

Abstract

Em um contexto de aumento da oferta da Educação Infantil em horário integral, estimulado pelo Plano Nacional de Educação e pela Lei nº 12.796/2013 que tornam obrigatória a matrícula de crianças de 4 e 5 anos na educação básica e pelas urgências climáticas em que vivemos atualmente, a Educação Infantil ganha cada vez mais responsabilidades com as crianças e suas necessidades, comprometendo-se com vivências que busquem uma infância plena. A partir desse entendimento observamos que a infância não deve ser vivida entre quatro paredes e que é necessário fazer uma Educação Infantil em que haja o ‘Desemparedamento das Infâncias’, ou seja, vivências nos espaços externos das Unidades de Educação Infantil onde a criança possa ter contato com elementos da natureza (terra, raios de sol, vento, plantas, etc.) tendo a oportunidade de vivenciar experiências de uma Educação Ambiental Crítica. O conceito de “Desemparedamento das Infâncias” é defendido pela pesquisadora Lea Tiriba que advoga a importância de as crianças ocuparem, cada vez mais, os espaços externos das instituições, buscando reconectá-las com a natureza. Na contramão das ideias defendidas pela autora, podemos observar construções de unidades infantis com pouco ou nenhum espaço verde, concepções de educação que priorizam as salas de aulas, dentre outras questões. Dentro desta problemática, a presente pesquisa buscou responder o seguinte problema: Como favorecer uma atuação docente contra-hegemônica na perspectiva do Desemparedamento das Infâncias? A pesquisa teve, como objetivo geral, compreender quais fatores podem contribuir para a atuação docente em uma perspectiva do Desemparedamento das Infâncias em uma Unidade de Educação Infantil da Rede Municipal de Niterói. Os objetivos específicos buscaram identificar os fatores limitantes e os fatores que possibilitam o desenvolvimento de atividades nos espaços externos da Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI) e analisar as ações que contribuíram para uma atuação docente nessa perspectiva, a fim de que essas atividades sejam incentivadas e postas em ação. A pesquisa foi realizada com professores regentes, professores de apoio e a Equipe de Articulação Pedagógica. É de caráter qualitativo e teve elementos da pesquisa-ação. A geração de dados foi realizada de forma híbrida através da aplicação de questionário online, minicurso e entrevistas. Tanto o minicurso quanto a entrevista foram gravadas em áudio. Os dados foram transcritos e analisados a partir da Análise de Conteúdo. Os principais resultados da pesquisa foram: a necessidade de formação continuada sobre a temática e de momentos para os professores refletirem sobre os aspectos físicos, mentais e sociais do emparedamento das infâncias, no sentido de construírem ações desemparedadoras na UMEI; que a saúde e o bem-estar das crianças e a educação ambiental crítica são dois aspectos que servem como justificativas fundamentais para se fazer o desemparedamento, assim como, em uma ação recursiva, o desemparedamento pode ser um dos caminhos para práticas comprometidas com a educação ambiental crítica. Esses resultados, contribuíram para a construção e validação do produto educacional vinculado a essa pesquisa, um Caderno Pedagógico digital intitulado ‘Um convite ao Desemparedamento das Infâncias’ que tem o objetivo de colaborar para a valorização e o incentivo da utilização dos espaços externos das unidades de Educação Infantil em prol do desenvolvimento de experiências pedagógicas que busquem uma educação integral das crianças.

In a context of expanding full-time Early Childhood Education, driven by the National Education Plan and Law No. 12.796/2013, which make the enrollment of 4- and 5-year-old children in basic education mandatory, as well as by the current climate emergencies we are experiencing, Early Childhood Education increasingly assumes responsibilities regarding children and their needs, committing to learning experiences that seek a full and meaningful childhood. Based on this understanding, we observe that childhood should not be lived between four walls and that it is necessary to conduct Early Childhood Education in which there is a “Unwalling of Childhoods,” that is, experiences in the outdoor spaces of Early Childhood Education institutions where children can have contact with natural elements (earth, sunlight, wind, plants, etc.), having the opportunity to experience Critical Environmental Education practices. The concept of “Unwalling of Childhoods” is advocated by researcher Lea Tiriba, who emphasizes the importance of children occupying, increasingly, the external spaces of institutions, seeking to reconnect them with nature. Contrary to the ideas defended by the author, we can observe the construction of early childhood units with little or no green space, educational approaches that prioritize classrooms, among other issues. Within this problem, the present research sought to answer the following question: How can we promote a counter hegemonic teaching practice aligned with the perspective of the Unwalling of Childhoods? The general objective of this study was to understand which factors may contribute to teaching practices within the perspective of the Unwalling of Childhoods in an Early Childhood Education Unit of the Municipal School Network of Niterói. The specific objectives were to identify the limiting and enabling factors for the development of activities in the outdoor spaces of the Municipal Early Childhood Education Unit (UMEI) and to analyze the actions that contributed to teaching practices aligned with this perspective, so that such activities are encouraged and implemented. The research was conducted with lead teachers, support teachers, and the Pedagogical Articulation Team. It employed a qualitative approach and included elements of action research. Data collection was carried out in a hybrid format through an online questionnaire, a short training course (minicourse), and interviews. Both the minicourse and the interviews were audio-recorded. The data were transcribed and analyzed through Content Analysis. The main findings include: the need for continuing education on this topic and opportunities for teachers to reflect on the physical, mental, and social dimensions of the “walling in” of childhoods, in order to develop “unwalling” actions in the UMEI; that children’s health and well-being and critical environmental education are two fundamental justifications for implementing unwalling practices; and that, in a recursive manner, unwalling can serve as a pathway for practices committed to critical environmental education. These findings contributed to the creation and validation of the educational product associated with this research: a digital Pedagogical Guide titled “An Invitation to the Unwalling of Childhoods”, which aims to promote the appreciation and encouragement of the use of outdoor spaces in Early Childhood Education institutions to foster pedagogical experiences that support the integral education of children.