O que sabem as mãos: uma educação bordada na presença

Abstract

Este memorial de percurso relata uma trajetória de criação e formação que entrelaça vivências pessoais, investigações poéticas, experiências docentes a partir do fio do bordado. Dividido em seis partes - Nó invisível, Correntes, Nó Cego, Ponto Haste, Avesso e Um ponto atrás - o texto traça uma narrativa afetiva e crítica sobre o bordado como desencadeador de um ato criador que se manifesta na prática artística e pedagógica. O relato parte de uma ausência. Ao contrário de muitas histórias que relatam o primeiro contato com o bordado pela transmissão do saber de ancestrais, as descobertas da autora vem das redes sociais. Um encontro solitário, mas herdeiro de uma longa tradição marginalizada e associada ao espaço doméstico por seu vínculo com o fazer feminino. Ao mesmo tempo em que discute heranças históricas, o texto reivindica o potencial conceitual e disruptivo do bordado. Na experiência de sala de aula, este memorial apresenta o bordado como um desencadeador de encanto e vulnerabilidade, atravessando o tempo escolar e convocando à presença. Bordar em sala de aula é entendido como um gesto pedagógico sensível, em que estudantes atravessam medos e inseguranças para se reconhecerem como criadores. Por fim, o memorial reflete sobre o avesso — esse lugar de bastidores, de caminhos tortos, nós, repetições e tropeços — como parte fundamental do processo criativo, inerente a todos os aspectos do existir. É no “ponto atrás”, que retorna para depois seguir, que a autora compreende o bordado como gesto de escuta, de memória e de reconexão com o próprio fazer. O trabalho afirma que o ato de bordar se basta em sua potência de existir — e é no fio que desliza, tensiona e perfura que se inscrevem a arte, a história e o ensino.

This memoir chronicles a journey of creation and development that intertwines personal experiences, poetic investigations, and teaching experiences using the embroidery thread. Divided into six parts—Invisible Knot, Chains, Blind Knot, Haste Stitch, Reverse Stitch, and One Stitch Behind—the text traces an affective and critical narrative about embroidery as a trigger for a creative act that manifests itself in artistic and pedagogical practice. The account begins with an absence. Unlike many stories that recount the first encounter with embroidery through the transmission of ancestral knowledge, the author's discoveries come from social media. A solitary encounter, yet heir to a long tradition marginalized and associated with the domestic space due to its link with female craftsmanship. While discussing historical legacies, the text reclaims the conceptual and disruptive potential of embroidery. In the classroom experience, this memoir presents embroidery as a trigger for enchantment and vulnerability, spanning school time and summoning presence. Embroidery in the classroom is understood as a sensitive pedagogical gesture, in which students overcome fears and insecurities to recognize themselves as creators. Finally, the memorial reflects on the reverse—this place of backstage, of crooked paths, knots, repetitions, and stumbles—as a fundamental part of the creative process, inherent to all aspects of existence. It is in the "backstitch," which returns and then continues, that the author understands embroidery as a gesture of listening, memory, and reconnection with the process itself. The work affirms that the act of embroidery is self-sufficient in its power to exist—and it is in the thread that slides, tensions, and pierces that art, history, and teaching are inscribed.