Do inefável e do encantamento: considerações sobre a música para além da linguagem

Abstract

Este trabalho aborda o acontecimento musical em sua natureza inefável. Foi realizada uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo por meio da revisão bibliográfica de textos que examinam a música sob um viés filosófico, isto é, que a pensam naquilo que essencialmente a constitui. O estudo objetiva a investigação da possibilidade de a música não se esgotar na ideia de linguagem, buscando compreender o caráter expressivo da música a partir de sua concepção simbólica, descrever a experiência musical com base em uma abordagem filosófica da inefabilidade e do encantamento, e, por fim, promover uma educação musical imersiva que ressalte a espontaneidade do encanto. Quanto à fundamentação teórica, a pesquisa partiu da compreensão de música como discurso em Keith Swanwick (2003, 2014), explorando as suas bases na ideia de forma expressiva proposta por Susanne Langer (1950, 1951, 1953, 1957, 1967), para chegar às noções de inefável e encanto encontradas no pensamento estético de Vladimir Jankélévitch (2018, 2021), bem como a uma leitura empreendida por Jorge Larrosa (2017) da educação como acolhida da novidade radical. Constatou se que a arte sonora ultrapassa a mera concatenação, a referencialidade restritiva e as acomodações convencionais típicas da linguagem. Verificou-se que a educação infantil se destaca como singular oportunidade de cultivar o encanto, poder característico da música. Nessa sintonia, uma educação musical menos pretensiosa e mais inocente revelou-se um importante compromisso que intensifica a operação contagiante da música — encantamento irresistível, fruto de serena cooperação.