Uma família espiritual: a cosmologia bantu-kongo na formação de sentidos familiares nas irmandades de pretos e pardos (África-Brasil) - séculos XVII-XVIII

Abstract

Este trabalho tem como objetivo perscrutar de quais formas a cosmologia bantu-kongo impactou a formação de sentidos familiares no âmbito das irmandades de pretos e pardos, sendo a Irmandade do Santo Rei Baltasar, localizada no Rio de Janeiro do século XVIII, um espaço privilegiado de análise. Nesse intuito, a investigação se propõe elaborar um embasamento teórico-metodológico com base em epistemes africanas, a fim de postular os valores sociais bantu como elementos que engendraram historicamente uma forma de sociabilidade voltada ao modo de vida comunitário, estando ela presente nas duas margens da Kalunga. Não alinhada às idealizações homogeneizantes acerca da experiência de convívio entre africanos no interior dessas instituições, contudo a análise terá um foco maior em fatores que foram responsáveis por unir essas pessoas. Serão assim apresentadas as irmandades como espaços eminentes para o exercício espiritual, meio pelo qual se expressou ao longo do processo histórico a constituição de uma proposição particular de família bantu, a espiritual/ritual.

This paper aims to investigate the ways in which Bantu-Kongo cosmology impacted the formation of family meanings within black and brown brotherhoods, with the Brotherhood of Saint King Balthazar, located in Rio de Janeiro in the 18th century, being a privileged space for analysis. To this end, the investigation proposes to develop a theoretical-methodological basis based on African epistemes in order to postulate Bantu social values as elements that historically engendered a form of sociability focused on the community way of life, being present on both banks of the Kalunga. Not aligned with homogenizing idealizations about the experience of coexistence among Africans within these institutions, however, the analysis will have a greater focus on factors that were responsible for uniting these people. Thus, the brotherhoods will be presented as eminent spaces for spiritual exercise, a means by which the constitution of a particular Bantu family proposition, the spiritual/ritual, was expressed throughout the historical process.