Literatura negro afetiva nas séries iniciais: percursos e possibilidades para a descolonização do imaginário de pequenos leitores

Abstract

O presente artigo traz uma reflexão sobre o papel da literatura negro afetiva nas séries iniciais, com foco nas possibilidades de promover o letramento racial e a decolonização do imaginário infantil. A partir da minha trajetória pessoal como mulher negra, professora e pesquisadora, mobilizo o conceito de escrevivência (Evaristo, 2018) para evidenciar como experiências individuais e coletivas podem ser ressignificadas por meio da literatura. Fundamentado em autoras e autores como Conceição Evaristo, Nilma Lino Gomes, Sueli Carneiro, Sônia Rosa e Cida Bento, o estudo dialoga com perspectivas críticas sobre o racismo estrutural, o mito da democracia racial e a branquitude como estruturas que moldam o campo educacional e literário brasileiro. O percurso leva a pesquisa para uma análise de quatro obras da autora Sônia Rosa, selecionadas por seu caráter representativo e afetivo: O menino Nito, Cadê Clarisse? Os tesouros de Monifa e Chama o Sol, Matias!. As obras contribuem para a construção de uma educação antirracista, sensível às subjetividades negras e capaz de transformar a escola em um espaço de valorização da diversidade. Ao articular literatura, afeto e identidade, o trabalho reafirma a importância de narrativas que humanizem as infâncias negras e possibilitem o enfrentamento do racismo desde os primeiros anos escolares.

his article offers a reflection on the role of affective Black literature in shaping young readers, focusing on the potential to promote racial literacy and decolonize the imagination of children. Drawing from my personal trajectory as a Black woman, teacher, and researcher, I employ the concept of escrevivência (Evaristo, 2018) to highlight how individual and collective experiences can be re-signified through literature. Grounded in the works of authors such as Conceição Evaristo, Nilma Lino Gomes, Sueli Carneiro, Sônia Rosa, and Cida Bento, the study engages with critical perspectives on structural racism, the myth of racial democracy, and whiteness as systems that shape the Brazilian educational and literary landscape.The research adopts a cartographic approach and centers on the analysis of four books by author Sônia Rosa, chosen for their representative and affective nature: O menino Nito, Cadê Clarisse?, Os tesouros de Monifa, and Chama o Sol, Matias!. These works contribute to building an anti racist education that is sensitive to Black subjectivities and capable of transforming schools into spaces that value diversity. By articulating literature, affect, and identity, this work reaffirms the importance of narratives that humanize Black childhoods and support the fight against racism from the earliest stages of education.