Corpo e o ensino de história: um relato de experiência no ensino médio

Abstract

O presente trabalho tem por finalidade contribuir para o debate no que tange aos 20 anos da lei nº 10.639/03 (BRASIL, 2003), que tornou obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na educação básica. Esta pesquisa é fruto da trajetória de mais de 10 anos como pesquisador/praticante dos brinquedos populares de matriz africana na relação com a atual atuação como professor de História da educação básica, onde vêm sendo desenvolvidas ações e reflexões sobre a importância do corpo na relação entre ensino e aprendizagem, na perspectiva da educação das relações étnico-raciais. As reflexões aqui propostas têm como base as atividades pedagógicas, psicomotoras e as vivências culturais afro-ameríndias brasileiras realizadas no primeiro semestre de 2023 com uma turma do ensino médio em uma escola particular situada em um município do Norte Fluminense do estado do Rio de Janeiro. A metodologia se deu a partir do uso de linguagens artísticas que envolvem diretamente o corpo, trazendo para os estudantes o desafio de articular os conteúdos históricos, presentes nos livros didáticos, com movimentos corpóreo-gestuais próprios das manifestações diaspóricas, proferidos pelos alunos sob orientação do autor e supervisão de um mestre da cultura popular. Essa prática foi feita e pensada com o intuito de estabelecer um vínculo entre os alunos e as culturas de matriz africana e, desse modo, tornar propícios certos debates em torno de racismo, racismo estrutural, branquitude etc. O corpo, ao longo do processo histórico de colonização, foi deslegitimado enquanto produtor de conhecimento. Refletir sobre o engajamento do corpo nos processos de ensino e aprendizagem é, portanto, refletir sobre as possibilidades efetivas da constituição de uma consciência crítica e de uma pedagogia decolonial e polirracional. Desse modo, não se pretende substituir uma centralidade europeia do currículo por uma africana, mas, sim, promover igual reconhecimento e valorização das raízes africanas da sociedade brasileira.