Nuances da química prática de Sumner e Vieira – 1939

Abstract

Ao fazerem uma abordagem histórica do ensino de Química no Brasil, nenhum trabalho consegue dar sequência sem ao menos uma breve passagem pela História da Química no Colégio Pedro II. O Colégio foi criado em 1837 tendo como objetivo servir de modelo para outros estabelecimentos e de padrão para a estruturação do Ensino Secundário brasileiro. A princípio, devido a particularidades e interesses próprios da sociedade, inerentes à época, o estudo de ciências foi relegado a segundo plano. A Química passou a ter maior destaque em 1925 quando foi separada da física e a experimentação foi inicialmente inserida nos programas de ensino do Colégio. No ensino de Química, a necessidade e importância da experimentação são evidentes, pois além de motivar os alunos e despertar a curiosidade experimental, as aulas práticas auxiliam na compreensão de conceitos químicos relacionandoos à realidade cotidiana, além de contribuir para uma maior aprendizagem. Neste contexto, estudar a estruturação das práticas de Ensino de Química em uma época em que os livros, manuais e apostilas constituíam os principais recursos didáticos utilizados por professores e alunos, é um campo interessante, desafiador e ainda pouco explorado. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi investigar a estruturação e a forma de apresentação das atividades experimentais propostas no plano de ensino de 1929 do Colégio Pedro II, quais são contempladas no livro Química Prática. Este trabalho configurou-se no âmbito de uma análise documental exploratória e baseou-se em um estudo qualitativo, cujo objetivo foi conhecer e compreender aspectos importantes da estruturação e forma de abordagem do conteúdo experimental proposto no livro Química Prática – Química Inorgânica e Química Analítica para os cursos Fundamental e Complementar dos professores George Sumner e Ricardo Rodrigues Vieira publicado em 1939, sendo supostamente usado como um dos primeiros manuais em português e exclusivo para realização de aulas práticas no colégio. Neste estudo, foi possível o levantamento de elementos de base histórica sobre a estruturação e organização das aulas práticas propostas no livro. Além disto, os elementos gráficos foram reproduzidos e registrados, a fim de preservar a memória histórica da Química e do conteúdo do livro. Com base neste estudo, conclui-se que o exemplar do livro Química Prática publicado em 1939 era exclusivo para experimentação. A partir da análise dos experimentos foi possível enquadrálos na tradicional abordagem empirista indutivista, baseada, principalmente na observação dos fenômenos, uma vez que os autores se detiveram na apresentação e roteirização do conteúdo, representando o tradicionalismo do ensino da época. Foi possível constatar similaridades, nuances e contrastes entre a forma histórica de organização de aulas experimentais e as práticas atuais propostas em livros didáticos para o ensino médio, principalmente no que tange o empirismo-indutivismo e a descrição de fenômenos. De maneira geral, ressalta-se a estreita relação do conteúdo do livro com o momento histórico e ao desenvolvimento industrial que se instaurava no país, o que consequentemente demandava por mão de obra qualificada e certamente com habilidades na caracterização dos materiais.